Imagem mostrando várias mulheres com lipedema nas pernas

Lipedema: tudo o que você precisa saber

Uma condição muito comum entre mulheres é a lipodistrofia ginoide. Conhecida popularmente como celulite, atinge 95% da população feminina, segundo a Organização Mundial de Saúde. Essa camada de gordura, que costuma aparecer após a puberdade, costuma se atenuar com dieta e exercícios físicos. Contudo, quem sofre de lipedema percebe que, mesmo com uma rotina saudável, não consegue se livrar do problema.

Mais do que um aspecto de casca de laranja, essa doença crônica traz inchaço e dificulta a circulação sanguínea na região. Neste texto, você entenderá o que é, causas, sintomas e tratamento do lipedema. Continue a leitura.

O que é lipedema?

Lipedema é uma doença vascular crônica caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura em braços, pernas e glúteos. Com raízes genéticas, atinge principalmente mulheres após a puberdade.

A causa do lipedema ainda é desconhecida. No entanto, quem sofre com o problema costuma ter familiares próximos que sofrem da mesma condição.

Outra potencial causa é a alteração hormonal, já que muitas vezes o lipedema se desenvolve durante a puberdade, gravidez, uso de anticoncepcionais, tratamentos para engravidar e menopausa.

É comum que a doença se confunda com a obesidade ou a celulite comum. Contudo, o acúmulo é desproporcional: mesmo mulheres magras podem apresentar diferentes graus da patologia.

Apesar de ter sido descrito pela primeira vez em 1940, pelos médicos Edgar Van Nuys Allen e Edgar Alphonso Hines Jr., o lipedema só foi reconhecido como uma doença crônica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2019. Em 2022, a Organização o incluiu na Classificação Internacional de Doenças (CID-11).

Para auxiliar a população a reconhecer o problema e procurar ajuda médica com antecedência, junho foi escolhido como o mês da Conscientização do Lipedema.

Tipos e estágios do lipedema

O lipedema se classifica por tipos (localização) ou estágios (gravidade). Conheça ambas as formas.

Tipos de lipedema

Há 5 tipos de lipedema, que variam conforme a maior concentração de tecido adiposo:

  • tipo I: atinge do umbigo aos quadris;
  • tipo II: do umbigo aos joelhos, com tecido adiposo se acumulando atrás das articulações;
  • tipo III: do umbigo aos tornozelos, com acúmulo de gordura logo acima dos pés;
  • tipo IV: acomete os braços. Costuma se associar aos tipos II e III;
  • tipo V: atinge apenas do joelho para baixo.

Estágios do lipedema

Já com relação à gravidade da patologia, a classificação é por estágios:

  • estágio I: a superfície da pele é lisa e normal, com surgimento de alguns nódulos subcutâneos;
  • estágio II: apresenta mais nódulos e flacidez incomum para a idade. A paciente pode sentir dores, e os hematomas são mais frequentes;
  • estágio III: grande acúmulo de gordura, desproporcional em relação ao restante do corpo. A pele, significativamente mais flácida, formam dobras que dificultam uma simples caminhada. Também são perceptíveis áreas de fibrose, que se forma pela inflamação crônica. Dores e hematomas frequentes;
  • estágio IV: além dos problemas relatados no estágio III, há o comprometimento do sistema linfático. A pele apresenta grandes deformidades causadas pelo excesso de tecido adiposo fibrosado. A paciente também apresenta edema nos pés (conhecido como lipo-linfedema) e mais dificuldade para andar.

Quais os sintomas do lipedema?

Assim como uma doença crônica comum, o lipedema não é uma emergência médica, ou seja, não se cura, nem traz riscos a curto prazo. Porém, é um tecido gorduroso diferente: seus nódulos subcutâneos podem ter fibrose em volta, com componentes inflamatórios e vasculares. Dessa forma, é comum que a mulher sinta muitas dores e tenha hematomas causados pelo rompimento de vasos sanguíneos.

Alguns sinais e sintomas do lipedema são:

  • hematomas frequentes, 
  • edemas (inchaço);
  • desconforto;
  • cansaço;
  • dor nas regiões afetadas.

Mulheres com lipedema também são mais suscetíveis a lesões nas articulações, já que o excesso de tecido adiposo dificulta a caminhada. Alguns problemas gerados são:

  • lordose (curvatura mais acentuada nas regiões lombar e cervical);
  • joelho valgo (um joelho aponta para o outro);
  • pronação excessiva do tornozelo;
  • arco plantar plano.

Com o passar do tempo, a dificuldade para caminhar pode fazer com que o paciente sofra de atrofia muscular.

Qual a diferença entre lipedema e celulite?

A principal diferença entre lipedema e celulite é com relação à dor. Enquanto o primeiro problema pode causar dores ao toque e edemas, o segundo é indolor. 

O lipedema também não responde a exercícios físicos e boa alimentação: mesmo uma atleta pode sofrer do problema. Já a celulite diminui consideravelmente com uma rotina saudável.

Também é importante destacar que a celulite não é uma doença crônica, e sim a junção de tecido gorduroso subcutâneo. Já o lipedema é um acúmulo anormal, que pode causar diversos problemas de saúde.

Homens podem ter lipedema?

Sim, homens também podem sofrer com lipedema, mas os casos são muito mais raros e difíceis de diagnosticar. Afinal, enquanto mais de 90% das mulheres têm celulite, apenas 10% dos homens apresentam essa característica.

Há também o problema de subnotificação. Por ainda não ser uma patologia muito conhecida e facilmente confundida com a celulite comum ou obesidade, o diagnóstico no geral tende a ser mais difícil também.

Como saber se tenho lipedema?

É essencial conversar com um médico para descobrir se o acúmulo de gordura é celulite ou lipedema. Porém, observe se os nódulos de gordura subcutâneos causam dores ao toque.

O primeiro médico envolvido no diagnóstico é o endocrinologista, mas a paciente também pode fazer com o cirurgião vascular e o cirurgião plástico para tratamento. Há outros profissionais de saúde envolvidos no tratamento, como o educador físico, o fisioterapeuta, o massoterapeuta e até o psicólogo, dependendo de como o lipedema afeta a saúde mental da mulher.

Se você também nota muitos edemas nas pernas, mesmo sem ter sofrido alguma lesão local, procure por um angiologista.

Por fim, observe se os membros — principalmente os inferiores — são desproporcionais ao tronco. É comum que mulheres com lipedema tenham as pernas muito volumosas com relação ao corpo da cintura para cima.

Outras características comuns são o aumento progressivo da gordura dos membros (principalmente inferiores) com o passar dos anos, sem que o restante do corpo acompanhe, e a dificuldade em eliminar a gordura mesmo com dieta e atividade física.

Um dos exames essenciais para o diagnóstico de lipedema é a ressonância magnética, que permite observar o acúmulo de gordura ao redor dos músculos dos membros.

Lipedema tem cura?

Infelizmente, lipedema não tem cura, mas tem tratamento — que vai durar por toda a vida. Quanto mais rápido o diagnóstico, mais resultado terá o tratamento. 

Por ser uma gordura envolta com tecido fibrosante, também não é eliminada com dieta e exercícios. O único procedimento capaz de remover o lipedema por completo é a combinação de cirurgia vascular com lipoaspiração, mas apenas após a recomendação médica.

O tratamento do lipedema é multidisciplinar: inclui dieta específica para o problema, com alimentos anti-inflamatórios, além de exercícios físicos aeróbicos e de baixo impacto. Conheça algumas técnicas.

Terapia de compressão

Um dos principais tratamentos para lipedema é o uso de bandagens ou meias de compressão. Ambos favorecem o retorno da linfa e, como consequência, evitam os inchaços característicos da condição. Também diminuem a dor e o desconforto.

Drenagem linfática

O acúmulo de linfa é um dos problemas decorrentes do lipedema. Porém, a drenagem linfática manual (DLM) ajuda o líquido a circular para os gânglios linfáticos e, dessa forma, percorrer da maneira correta pelo corpo.

Os movimentos da drenagem são muito suaves e, portanto, não causam dor. As sessões trazem resultados positivos principalmente nos estágios mais avançados da doença.

Fisioterapia

A fisioterapia também é fundamental para o tratamento do lipedema. Além de aliviar a dor e o desconforto, a estratégia retarda o avanço da doença e mantém a mobilidade dos membros.

A terapia de compressão e a DLM são duas abordagens utilizadas na fisioterapia, que também inclui exercícios físicos personalizados.

Exercícios de baixo impacto

E por falar neles, os exercícios físicos são importantes em qualquer situação — mas, para as pacientes com lipedema, são primordiais. Aqui, o paciente precisa fazer atividades físicas de baixo impacto, que não causam um grande impacto nas articulações e evitam lesões.

As mais conhecidas são caminhada, ciclismo, ioga, pilates e tai chi chuan. Contudo, exercícios na água, como natação e hidroginástica, são excelentes porque melhoram o sistema cardiovascular.

Alimentação

Apesar de não estar ligado a um problema de saúde, é fundamental que as mulheres com lipedema cuidem do peso de maneira adequada. Além dos exercícios físicos, as pacientes devem evitar laticínios e carboidratos, e priorizar proteínas, fibras, antioxidantes e ômega 3. Frutas, verduras, peixes, sementes de chia, linhaça, nozes, abacate, azeite de oliva e oleaginosas são alguns exemplos.

Lipoaspiração tumescente

Lipoaspiração tumescente é um tipo de cirurgia menos invasiva, mas que pode aliviar — e muito — os transtornos do lipedema. Desenvolvida na década de 1980, foi a primeira técnica a injetar uma solução composta de soro fisiológico e adrenalina que diminui o calibre dos vasos capilares e, consequentemente, reduz o sangramento.

A grande diferença entre a lipoaspiração tradicional e a tumescente é que, na primeira, o cirurgião costuma utilizar anestesia geral ou peridural; já na segunda, apenas local. O paciente, portanto, fica acordado durante todo o procedimento e pode sinalizar eventuais problemas, além de se recuperar com mais rapidez.

A lipoaspiração tumescente também é adequada para pacientes que só podem passar pela anestesia local. Independentemente do tipo, toda lipoaspiração ocorre em bloco cirúrgico, mesmo sem sedação.

Após a aplicação da anestesia e da solução, o profissional faz uma pequena incisão na pele, que servirá de passagem para a introdução da cânula. Conectada a um aspirador cirúrgico, a ferramenta sugará o tecido adiposo por meio de movimentos de vaivém. 

Apesar de resolver o problema com mais rapidez, a lipoaspiração só é recomendada quando os outros tratamentos não surtem efeitos.

Como visto, o lipedema é uma doença sem cura, mas com tratamento multidisciplinar. Caso as práticas terapêuticas não tenham efeito, a paciente pode passar pela cirurgia de lipoaspiração tumescente. Mas como saber qual o profissional correto para executar o procedimento? Confira tudo o que é necessário saber para escolher o cirurgião plástico ideal.

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